quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Gyula Krúdy



o companheiro de viagem

desejava tomar o café da manhã numa toalha azul cheirando a leite, como em criança na casa dos pais: troca-se a toalha de mesa todo domingo, os rostos estão recém-lavados, os cabelos são penteados ainda molhados, as camisas alvejadas, as feições alegres em volta da mesa familiar. ali, mesmo a aguardente e o rum têm outro aroma. A pálinka* que a família entorna em jejum não faz mal. a galinha acaba de pôr o ovo fresco, a manteiga gordurosa sorri como uma jovem obesa entre folhas de parreira, os sapatos brilham, o pensamento carregado da noite se alça da roupa de cama com a brisa fresca da manhã, a empregada corre sobre pés de bailarina na saia engomada de véspera; nas ruas cobertas pela geada matinal, mesmo as carroças de esterco exalam um cheiro diferente, de tarde o estertor dos doentes graves silencia nas casas vizinhas, as verduras frescas da feira, a cabeça vermelha dos galos, o rosado das carnes balançam nas cestas de vime, a torre da cidade parece ter sido lavada com esponja durante a madrugada, o chapim de colete colorido saltita alegre no morangueiro congelado como a vida distraída que perdoa o passado e se renova...

* aguardente de pêssego, equivalente à cachaça. 

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