quarta-feira, 28 de maio de 2014

Rainer Maria Rilke



cartas a um jovem poeta 

maio 14, 1904, Roma

amar também é bom:
porque o amor é difícil.
o amor de duas criaturas humanas
talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta,
a maior e última prova,
a obra para a qual todas as outras são apenas uma preparação.
por isso, pessoas jovens que ainda são estreantes em tudo,
não sabem amar: tem que aprendê-lo.
como todo o seu ser,
com todas as suas forças concentradas em seu coração solitário,
medroso e palpitante,
devem aprender a amar.
mas a aprendizagem é sempre uma longa clausura.
assim, para quem ama,
o amor,
por muito tempo e pela vida afora,
é solidão,
isolamento cada vez mais intenso e profundo.
o amor, antes de tudo,
não é o que se chama entregar-se,
confundir-se, unir-se a outra pessoa.
que sentido teria, com efeito,
a união com algo não esclarecido,
inacabado, dependente?
o amor é uma ocasião sublime para o indivíduo amadurecer,
tornar-se algo em si mesmo,
tornar-se um mundo para si,
por causa de um outro ser;
é uma grande e ilimitada exigência que se lhe faz,
uma escolha e um chamado para longe.
do amor que lhes é dado,
os jovens deveriam servir-se unicamente como de um convite para trabalhar em si mesmos.
a fusão com o outro, a entrega de si,
toda espécie de comunhão não são para eles;
são algo de acabado para o qual,
talvez, mal chegue atualmente a vida humana.
creio que aquele amor persiste tão forte e poderoso
em sua memória justamente por ter sido sua primeira solidão
profunda e o primeiro trabalho interior com que moldou sua vida.

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